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Arquitetos: Luigi Rosselli, Raffaello Rosselli
- Ano: 2017
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Fotografias:Ben Hosking, Prue Ruscoe, Callum Coombe, Raffaello Rosselli
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Fabricantes: Bisane tiles, Monier, Rockcote
Reavaliando os resíduos
A arquitetura, muitas vezes, dependente de materiais caros e preciosos para ser valorizada. Por outro lado, existem materiais residuais subvalorizados e pouco explorados, como as tradicionais telhas de barro utilizadas neste projeto de forma a redefinir e enriquecer a sua arquitetura. A exploração criativa dos resíduos da construção civil faz sentido em nossa prática profissional uma vez que na Austrália, a industria da construção gera por volta de 50% de resíduos; além disso, deve-se considerar que a pegada de carbono dos edifícios está baseada principalmente na quantidade de energia necessária para produzir cada um dos materiais utilizados. A reutilização de materiais auxilia e muito a reduzir o impacto ambiental de uma obra e é, de longe, uma das formas mais eficientes de construção sustentável. Luigi e Raffaello Rosselli trabalharam em conjunto no desenvolvimento do projeto para o seu novo edifício de escritórios. Reutilizando resíduos criados por suas próprias obras, este projeto pretende ser um modelo para a prática profissional futura da dupla de arquitetos.
A procura por materiais residuais
O projeto começou com o estudo de possíveis materiais residuais que pudessem ser utilizados como brise-soleil na fachada principal do edifício. A telha de barro, um símbolo negligenciado dos subúrbios, foi escolhida por sua larga disponibilidade e fácil adequação. Durante a produção de telhas de barro, todas as peças fora do padrão acabam sendo rejeitadas, fazendo com que um material novo e nobre seja descartado. Deixando de lado a uniformidade das peças, o que nos interessava era a materialidade elementar crua e singular de cada uma das telhas utilizadas e seu processo de produção manual. Contextualmente, a argila utilizada também acaba por evocar a materialidade do tijolo utilizado nos tradicionais edifícios da vizinhança.
Projetando através da construção - protótipos em escala 1:1
O processo projetual deste edifício também foi bastante peculiar. Em resposta a geometria complexa do terreno, o design da fachada foi concebido e adaptado depois de executarmos vários testes em escala real e protótipos construídos à mão. Esta experiência nos proporcionou uma nova maneira intuitiva de projetar e pensar a arquitetura. Este processo artesanal permitiu a criação de protótipos rápidos, incluindo a experimentação de vários tipologias diferentes.
Esses protótipos nos levaram ao projeto final do edifício, onde cada elemento foi implantado de acordo com uma função específica. As peças inferiores foram dispostas em ângulos mais verticais para resistirem a maiores cargas, e para trazer mais privacidade ao interior. Elementos equidistantes foram utilizados no nível do observador, reduzindo as obstruções visuais entre o interior e o exterior. Por outro lado, na parte superior da fachada, as telhas foram dispostas na posição horizontal e inclinadas para o norte. A variação dos elementos também nos permitiu esconder as faces das lajes, criando uma sensação de leveza na fachada exterior. Esse dinâmico processo de projeto nos permitiu explorar ao máximo a modulação da fachada, desenvolvendo novas maneiras para resolver os desafios de projetos como este. A linha sinuosa da fachada foi crucial para dar uma sensação de proporção adequada ao conjunto dentro do contexto da rua, conectando os edifícios lindeiros desalinhados e recuados uns dos outros.
Respondendo as características do terreno
As linhas primárias do projeto surgiram em resposta ao contexto imediato dos edifícios vizinhos. O gabarito utilizado, por exemplo, foi pensado em relação as alturas das estruturas existentes em cada um dos lados, enquanto que a fachada curva foi uma saída para proteger a árvore existente da calçada que toma conta de parte do terreno. A fachada principal está voltada para o oeste de forma que o brise-soleil serve para filtrar o sol forte e, ao mesmo tempo, maximizar a iluminação natural através desta pequena fachada frontal de apenas 8m de largura. A volumetria do edifício mantém a relação de gabarito com o armazém de dois pavimentos construído em frente, recuando seu pavimento superior para respeitar a escala da rua. O toldo curvo instalado acima do primeiro pavimento procura corresponder ao contexto urbano e fornece uma interface generosa com a rua.
Internamente, o prédio abriga, entre outros espaços comerciais, um estúdio de arquitetura projetado como um ambiente dinâmico e criativo, estimulando o engajamento e o trabalho em equipe: como uma "colmeia" de arquitetos. Desafiando a natureza genérica e muitas vezes alienante dos edifícios de escritórios, este projeto procura oferecer um ambiente ativo, mas intimista, com espaços flexíveis devido ao projeto específico de mobiliário, amplamente reutilizado do antigo estúdio, outro importante componente que respeita os ciclos dos materiais neste projeto. O espaço principal não possui segmentações nem paredes, ele é definido por duas fileiras de áreas de trabalho, com cada arquiteto ocupando duas mesas, as quais se conectam por uma bancada longa e linear que facilita o trabalho colaborativo.
No piso superior, um terraço com jardim oferece um novo espaço de trabalho a céu aberto, onde é possível realizar distintos eventos ou apenas relaxar após um dia exaustivo de trabalho. No nível que segue abaixo, a mesa da sala de reuniões é semi-fechada por uma estante de telhas de barro, uma variação modular da fachada trazida para o espaço interior. Esta é uma tentativa consciente de re-contextualizar o valor dos materiais reutilizados, defendendo soluções sustentáveis e mostrando aos clientes e ao público em geral que é possível reutilizar os resíduos da construção civil de forma criativa e inteligente.